Especialistas destacam diferenças nas políticas de drogas nos dois países e comentam o início da venda de maconha recreativa nas farmácias do Uruguai.
Por Bruna Pannunzio

Quando o assunto é maconha, o primeiro país que vem à cabeça é a Holanda. Ao contrário do que muitos pensam, lá maconha não é legalizada. O uso e venda da droga são tolerados sob leis rígidas, mas sua cultivação só foi aprovado pelo Parlamento em fevereiro deste ano.
O consumo de maconha dentro dos coffes shops é tolerado, mas é estritamente proibido fazer publicidade sobre a droga. Menores de 18 anos não podem entrar nos cafés.
Para o professor e pesquisador em História das Drogas Henrique Carneiro, da Universidade de São Paulo (USP), a Holanda foi, mas agora o Uruguai e vários estados dos EUA avançam para uma legalização plena. Ele ressalta que a erva é uma planta de grandes virtudes e injustamente proibida.
“Só a legalidade de toda cadeia produtiva e o direito do auto-cultivo poderão acabar com todas as mazelas que a proibição da maconha causou”, diz o professor.
O Uruguai começou a vender maconha recreativa em farmácias na semana passada. Nesta primeira etapa de vendas no Uruguai, a erva vendida em farmácias só tem 2% de THC (composto psicoativo da planta). Mas, segundo Alvaro Charrua, membro fundador da Rede de Usuários de Drogas do Uruguai (R.U. D.U), que trabalha em parceria com a Junta Nacional de Drogas, no ramo de estratégia de danos e riscos, e compõe a coordenação de regulação da cannabis desde sua formação, nos próximos meses serão disponibilizados pacotes de maconha com níveis de concentração mais elevados.
Em entrevista ao Independente, Alvaro falou sobre a estreia da venda da droga nas farmácias do país e não descarta a ideia de vender a maconha para os estrangeiros legalmente em uma outra etapa.
Independente – Como estão os dados desde ontem quando começaram as vendas nas farmácias?
Alvaro – Ontem (19 de julho) no final do dia, acabaram os estoques em todas as farmácias de Montevideu. Só restam em algumas farmácias do interior.
Independente – Qual a expectativa do governo em relação ao tráfico de drogas depois que ocorreu a legalização?
Alvaro – Muitas expectativas. Estão trocando o paradigma das políticas de drogas. O mercado ilegal atua de diversas maneiras, calculamos que enfraqueça o mercado ilegal, assim mudando o rumo das coisas.
Independente – O que vocês esperam alcançar com a mudança da política de drogas?
Alvaro – Esse é outro tema que o Estado deve pensar como resolver. Com a legalização, o Governo pretende exportar e estudar outros potencias da maconha, como as propriedades medicinais e a fabricação de produtos.
“O fundamental e social é que o usuário de substâncias não sejam marginalizados, criminalizados e discriminados. Somos trabalhadores, estudantes, professores, profissionais, empresários… O consumidor pode ser qualquer familiar ou até mesmo um vizinho”.
Independente – A venda para os estrangeiros é proibida, mas o Governo espera um aumento no turismo para o consumo de drogas?
Alvaro – Sim, os únicos habilitados para vender a erva são as farmácias, mas é proibida a venda para estrangeiros. Entretanto, sempre existiram turistas que vêm para consumir drogas. O consumo já não era criminalizado. É possível que mais adiante surja a possibilidade de vender aos estrangeiros.
Independente – Vocês pretendem fazer a mesma política da Holanda, por exemplo?
Alvaro – Nem um pouco, o Uruguai é o único país onde o Governo controla tudo, desde a plantação da semente até a venda.
Independente – Um cidadão brasileiro que precisa importar medicamentos à base de maconha poderia importar do Uruguai?
Alvaro – Não sei responder essa questão. Mas o exemplo do Uruguai pode pegar em toda a América, quem sabe também no Brasil. Já tem no Brasil um ativismo muito forte em relação aos direitos humanos e drogas.