Por André Henrique
Parlamentares do PSB, partido de esquerda, cogitam fusão com o DEM, partido de direita. Confusão é resultado de um sistema político falido e de uma República em crise.
A supremacia da fisiologia é total na política brasileira.
Sobretudo depois que o centrão chegou ao volante da presidência com Michel Temer.
Há pouco espaço para agendas programáticas.
O que se tem são votações da mão pra boca de pautas que interessam à plutocracia.
Pesa mais a relação venal entre o executivo e o parlamento, para salvar pescoços, e não o país.
Predomina a pequena política. Querem ver?
Brasília quase parou porque dez deputados discutiam sair do PSB, supostamente de esquerda, para o DEM, de direita.
Falou-se até na criação de um novo partido.
Michel Temer passou a terça (18) em reunião com os parlamentares e encerrou o dia com um jantar com o presidente da Câmara Rodrigo Maia a fim de evitar a debandada.
Maia e Temer vivem uma guerra fria.
Um sabota o outro, nos bastidores, mas evitam embates em campo aberto.
Rodrigo Maia foi o articulador da possível vinda dos “socialistas” para o DEM.
Os deputados do PSB, insatisfeitos por querelas regionais, migrariam para o DEM, de olho nas benesses de um futuro governo Maia.
Michel Temer ofereceu-lhes filiação no PMDB, para encurralar Maia.
Barganha. É do jogo. Mas incomoda a salada partidária e ideológica, fruto de um sistema com muitos partidos e um poço sem fundo partidário generoso.
Incomoda a hegemonia de um jeito fisiológico de fazer política que não coloca no centro da agenda as grandes questões do país.
Há um vazio de lideranças e de inteligência. Não há direção e um projeto de país independente e solidário.
O pacto social de 1988 se rompe, não para caminhar na direção da modernidade, mas para atender mesquinharias.
Homens raquíticos, intelectual e moralmente, comandam o país como marionetes da grande mídia e do capital estrangeiro.
Em comum eles têm a busca pelos interesses pessoais e de grupos e o desprezo pelas demandas da nação.
Assiste-se à sobreposição do corporativismo sobre a República.
A democracia está seqüestrada pelo poder econômico e pela mediocridade política.
E não se trata de culpar esse ou aquele. Mas de apontar a degradação da classe política e das elites econômicas.
Sim, das elites econômicas, que patrocinaram um golpe parlamentar visando mais influência na máquina federal.
Como fazer política com P maiúsculo em um ambiente devastado como o apresentado?
O PSB é mais uma laranja em meio a tantas contaminadas pelo mesmo contexto que conjuga forças do atraso e neoliberalismo mesquinho.
O partido cresceu de 2006 a 2014.
Falava-se que poderia disputar a hegemonia da esquerda com o PT.
Esquerda?
A dinastia Arraes não conseguiu criar um partido orgânico e nacional.
Sob os auspícios de Arraes e Campos o PSB manteve-se personalista e dependente de forças locais atreladas a oligarquias.
Trata-se de um PMDB menor, com alguns quadros de esquerda isolados.
Prova disso que abandonou Dilma e apoiou o golpe, em troca de espaço político.
Agora o partido rompe com o governo federal e flerta com outra aventura golpista.
Tanto faz o PSB continuar PSB ou se juntar ao DEM (dos caciques locais travestidos de liberais) e formar nova sigla.
A essência fisiológica fatalmente continuará a mesma.
De socialista, o PSB só tem o nome.